Ataque direcionado

Desde que Moisés escreveu “No principio criou Deus…” a desejada derrocada que se espera dos oráculos divino está posta, por assim dizer, no inconsciente coletivo da humanidade. Deixe-me explicar: urge memorar que o diabo sempre tentou desacreditar e até mesmo destruir a palavra de Deus. Seu intento não acabou, ele apenas mudou de tática. Hodiernamente ele trabalha não mais com a fogueira, mas usa métodos refinados com os quais a nossa moderna mente cientifica se apraz em aceitar sem contestação. Vivendo em uma época impar da história, nosso ambiente relativista propicia que a palavra final da verdade seja dada não mais por um ser que não podemos ver tocar ou cheirar, um ser que escapa à verificação de nossas pesquisas cientificas, mas aos dados materialista de nosso século XXI. Sendo assim, qualquer coisa que se relacione a este ser é impiedosamente colocada sob suspeita. Tendo em vista que a herança e as promessas espirituais do cristão encontra seu embrião dentro dessa herança literária primitiva chamada “Antigo Testamento”, é de suma importância defendermos tanto uma como a outra dos ataques do maligno.

Definição de termo:

A palavra crítica vem do grego kritiké, do feminino kritikós. Denota basicamente dois conceitos um positivo como Juízo crítico, discernimento, critério, discussão dos fatos históricos, apreciação minuciosa; e outro negativo, ato de criticar, de censurar, condenação, julgamento ou apreciação desfavorável.

Há ainda um terceiro que é a arte ou faculdade de examinar e/ou julgar as obras do espírito, em particular as de caráter literário ou artístico. Este último processo que constitui o foco de nosso exame iniciou-se no Renascimento, e firmou-se no final do século XVIII. Mas a crítica em si, como ato reflexivo, remonta aos gregos. Platão refletiu, de maneira geral e assistemática, sobre o problema da arte e da literatura. Aristóteles, com a Poética e a Retórica, estabeleceu as bases da crítica literária e o modelo do método objetivo, indutivo, para apreciação do fenômeno literário.
Explicar, interpretar, criticar a literatura é, assim, buscar as condições que determinaram sua gênese seja no íntimo da personalidade criadora, seja nos fatores ambientais geográficos, raciais ou sociais.
Embora o termo com suas implicações modernas tenha tomado um sentido pejorativo, chegando a ser sinônimo de ceticismo, devido a certos críticos e suas teorias que procuram desacreditar as escrituras, não devemos, todavia, associá-la somente a esta classe. Ela sem duvida é de alto interesse e valor para qualquer estudante de teologia.

Indo mais longe diríamos que é até mesmo necessária à Bíblia. Serve para emitir um julgamento imparcial mediante observações e estudos da historia e o estado atual do texto original das Escrituras, aumentando com isso seu valor e confiabilidade. Esse é o conceito positivo que se ocupa a palavra crítica aplicada ao estudo sistemático da literatura secular ou bíblica.

Em sua aplicação ao texto bíblico pode ser dividida em dois grandes grupos:

1. Crítica Textual ou Baixa Crítica – Dá-se o nome de crítica textual à técnica filológica aplicada à reconstituição dos textos originais das obras literárias, que se desenvolveu, sobretudo a partir do estabelecimento dos textos de clássicos antigos e da Bíblia. Ocupa-se mais com a natureza verbal e histórica confinada a vocábulos e suas colocações conforme aparece nos textos bíblicos e seus manuscritos. Na prática sua preocupação principal é restaurar o texto original na base das copias imperfeitas que chegaram até nós provendo a correta leitura e interpretação do texto.

2. Alta Crítica – Método literário de interpretação das Sagradas Escrituras, que tem por objetivo determinar a autoria, data e circunstância em que foram compostos os santos livros. Este método verifica também as fontes literárias e a confiabilidade histórica da Bíblia. Ela consiste em extrair dos textos resultados a partir de um enfoque sobre a natureza, o método, da natureza e conexão do contexto, das circunstancias conhecidas dos escritores bíblicos, o assunto dos argumentos dos diferentes livros sagrados. Ela se ocupa com a nobre tarefa de examinar a integridade, autenticidade e credibilidade dos escritos que compõe o Livro Sagrado. O Alto Crítico procura saber a origem, o autor e como ele compôs o livro. Tudo isso deveria salutarmente ser aplicado às Escrituras. Por exemplo, quando alguém pergunta quando, quem e porque o NT foi escrito está fazendo uma alta crítica da Bíblia.

Enquanto a primeira lida com o texto determinando o que o original dizia, a última lida com a fonte do texto tentando descobrir quem disse, quando, onde e por que foi dito. Mas em ambas as divisões da crítica o questionamento é a característica predominante. O método é sempre o mesmo: Perguntar.

Breve história da Alta Crítica Bíblica

Embora, como já vimos acima, um tipo primitivo de Crítica, bem antes de Cristo, ter sido aplicada à investigação literária, contudo, J. G. Eichhorn, um alemão do século 18 foi o primeiro a aplicá-la ao estudo da Bíblia. Por isso ele é chamado de o “Pai da Crítica do Antigo Testamento”. Mas sua aplicação prática foi lançada mesmo por Jean Astruc em seu tratado sobre o Gênesis em 1753. Astruc conquanto defendia a autoria mosaica do livro, asseverou entretanto, que havia indícios de varias fontes entrelaçadas por todo o livro. Em outras palavras, Moisés lançou mão de várias fontes e não somente uma para compor o livro. Pode-se dizer então que a Alta Critica originou-se devido às investigações do Pentateuco, embora, de maneira naturalista e racional, relegando os milagres bíblicos a meras lendas e contos populares. Até mesmo muitas passagens, locais, personagens e costumes considerados por cristãos e judeus durante séculos como verídicos, foram postos sob suspeita. Tendo este pano de fundo histórico em mente, podemos então entender onde se firmam as bases do liberalismo teológico. É de se considerar que desde Astruc até aos dias de hoje, tem surgido várias escolas de Alta Critica, com as mais variadas teorias distanciando cada vez mais dos relatos bíblicos, levando assim, para mais longe da ortodoxia as conclusões delas resultantes. Por isso em alguns círculos ela é chamada pejorativamente de “Alta Crítica destrutiva” ou “negativa”.

Hipótese Documentária – O alemão Julius Wellhausen deu expressão a esta teoria quando propôs que o Pentateuco foi uma compilação de quatro documentos escrito por autores diferentes e independentes durante um período de cerca de 400 anos sendo finalmente redigido em sua forma básica por volta do quinto século a.C, ou seja, cerca de mil anos depois dos acontecimentos descritos. Wellhausen, considerava as histórias bíblicas como tradições populares que funcionavam como um espelho para transmitir eventos históricos posteriores. Por exemplo, a luta entre Jacó e Esaú nada mais era do que um reflexo da inimizade entre as nações de Israel e Edom, assim como as histórias de Sodoma e Gomorra, o Êxodo e até mesmo o rei Davi.

Fora estes temos ainda: Crítica histórica, Critica das fontes, Crítica da forma, Crítica da tradição e Critica da redação. O escopo desta matéria não pretende explicar cada uma das várias e confusas teorias de cada uma delas, antes, mostrar que tais alegações não procedem, firmando-se acima de tudo em especulações antes que em fatos históricos reais. Um elo comum que liga todas essas teorias é a chamada fonte JEDS.

O que são tais documentos?

Partindo dos critérios usados na critica literária, os críticos liberais alegaram encontrar quatro documentos diferentes dentro do Pentateuco principalmente no livro do Gênesis. Concluíram que esses documentos poderiam ser divididos levando-se em conta as variações dentro do texto. Os vários estilos, nomes divinos diferentes e repetições de narrativas confirmariam tal hipótese.

Sendo assim eles classificaram como JEDS, sendo que:

1. Documento “J” – representaria o escritor que usou o nome Jeová (YHWH) em seus documentos.

2. Documento “E” – representaria o escritor que usou o nome Elohim em seus documentos.

3. Documento “D” – representaria o código deuteronômico que seria uma redação tardia encontrado em 621 a.C e finalmente;

4. Documento “S” – representaria o ultimo escritor a trabalhar numa redação do AT. Ele pertencia à classe sacerdotal e viveu durante o exílio babilônico.

Dizem que o estilo da escrita de cada documento, assim como seu objetivo, difere entre si. Enquanto o documento “J” apresenta uma linguagem florida, o “S” possui a linguagem não de um historiador, mas de um jurista. Partindo deste pressuposto eles descartaram a autoria mosaica do Pentateuco.

A Verdadeira Causa do Conflito

PRESSUPOSTOS

Definição:

1. Que se pressupõe.
2. Pressuposição; conjetura.
3. Desígnio, tenção, projeto.
4. Circunstância ou fato considerado como antecedente necessário de outro. (Dicionário Aurélio Séc.XXI)

No contexto de nossa estudo poderíamos afirmar que pressupor seria chegar à conclusão sobre algo antes de se dar inicio às investigações a respeito. É o mesmo que preconceito, opinião preconcebida, conclusão previamente fixada etc…

É algo negativo o pressuposto?

Diríamos que os pressupostos em si não são negativos e nem positivos, servem apenas como princípios normativos de investigações. Toda pesquisa histórica possui os seus “a prioris”. Tanto o crítico radical da Bíblia como o conservador, partem de certos pressupostos para desenvolverem suas pesquisas. Os pressupostos na verdade são quase inevitáveis! Portanto, o problema se encontra em outro patamar, isto é, não é questão de ter ou não pressupostos, mas se tais pressupostos coincidem com a realidade. Há evidências factuais o suficiente para mantê-los de pé? Isto nos leva ao estudo de outro quesito que está intrinsecamente ligado a este e que na verdade é a premissa de todos os pressupostos levantados em muitos círculos de crítica bíblica – o sobrenaturalismo.

O sobrenaturalismo

Toda crítica bíblica destrutiva está firmada sobre o sobrenaturalismo, ou melhor, sobre o anti-sobrenaturalismo de seus críticos.
Estas são as duas premissas que ambos os críticos, liberal ou conservador, partem quando intentam levar a cabo suas pesquisas. Uma ilustração: O erudito liberal ao efetuar suas pesquisas parte necessariamente do pressuposto de que não existe nada de sobrenatural na Bíblia. Tudo que se refere a milagres na Bíblia é relegado à meras histórias míticas. Por outro lado, o conservador, parte da idéia de que Deus interveio no espaço-tempo em determinadas épocas para um determinado povo e sendo assim a hipótese sobrenatural não pode ser descartada, na verdade, ela é necessária para uma correta interpretação do texto. Por fim tais premissas não só irão determinar grandemente a metodologia [de ambas as partes] que será usada em suas investigações, como também suas conclusões serão grandemente influenciadas por elas.

As proposições apresentadas por tais críticos negativos se baseiam em grande parte no seguinte silogismo:

Deus não existe.

Se Deus não existe, portanto o sobrenatural não é possível.

Se o sobrenatural não é possível, conseqüentemente os milagres não existem.

Deve-se ressaltar que muitos estudiosos abordam a história partindo de uma noção preconcebida não tanto de caráter factual, mas moral, religioso ou filosófico. A razão está no fato de que essas abordagens pressupõem certas conclusões que forçosamente determinarão seu conceito filosófico. Consequentemente sua cosmovisão será forçosamente afetada.

Quando um crítico aborda certos milagres como as pragas do Egito, a criação de Adão e Eva ou a ressurreição, geralmente a reação imediata deles é “Deus não existe” ou “milagres não acontecem” ou ainda “Vivemos em um universo fechado”. Por universo ou sistema fechado entende-se que tudo deve ter uma explicação natural dentro de nosso próprio mundo dispensando quaisquer intervenções dentro deste sistema vindas de fora. Um exemplo moderno disto é a chamada parapsicologia. Os estudiosos desta nova ciência tende a rejeitar as afirmações bíblicas qualificando os milagres bíblicos na categoria alegórica ou meramente cultural. O fenômeno bíblico da glossolalia se presta a um bom exemplo do que queremos dizer. Atribuem a ele um sentido totalmente psicológico debaixo de explicações puramente naturalísticas.

A bem da verdade, a ciência nunca poderá explicar coisas que estão além dos padrões estabelecidos por ela mesma. Nunca chegaríamos a um denominador comum, posto que estaríamos abordando o assunto em campos diferentes; a ciência trabalha com coisas materiais e passível de repetição e os milagres transcende a tudo isso. Portanto, a tendência de muitos críticos bíblicos cuja metodologia está fundamentada em parte em métodos científicos é admitir que não existe a realidade espiritual, portanto não existem milagres.

Norman Geisler deu uma lista de vários argumentos de pensadores anti-sobrenaturais importantes como, por exemplo, Spinoza que expôs seu ponto de vista quanto a impossibilidade de milagres da seguinte maneira:

“que, então, nada acontece na natureza em transgressão às suas leis universais, não, coisa nenhuma está de acordo com isso e segue esse conceito, para […] ela [natureza] permanece firme e imutável”. De fato, “um milagre, se transgride a, ou está além da natureza, não é mais do que um absurdo”. Spinoza era dogmático quanto à impossibilidade de milagres quando proclamou: “Podemos, então, estar completamente certos de que cada evento [fato, acontecimento, neste caso os milagres] descrito na Escritura passou, assim como todos os demais, segundo as leis naturais”.

Geisler ainda resumiu os argumentos de Spinoza da seguinte maneira:
1. Os milagres são violações das leis naturais.
2. As leis naturais são imutáveis.
3. É impossível para as leis imutáveis serem violadas.
4. Por conseguinte, os milagres são impossíveis.

Certo erudito alemão resumiu bem o preconceito filosófico que norteia a metodologia dos críticos:

“A apresentação de um curso de história deve ser reputada a priori como inverídica e não-histórica se houver fatores sobrenaturais interposto.”

Josh Mcdowell cita a posição de A. Kuenen, um anti-sobrenaturalista, que resume bem o que queremos dizer:

“Enquanto atribuirmos alguma parte da vida religiosa de Israel diretamente a Deus, permitindo que a revelação sobrenatural ou imediata se imiscua, ao menos em uma instância, por todo esse tempo permanecerá inexata a nossa perspectiva do todo, e ver-nos-emos forçados a fazer violência aqui ou lá, ao firme conteúdo dos relatos históricos. Somente se partimos da posição de um desenvolvimento natural é que levaremos em conta todos os fenômenos.”

Diz ainda Mcdowell que “para um crítico radical, a presença do elemento miraculoso serve de evidência suficiente para ele que ele rejeite a sua historicidade, ou, pelo menos, serve de razão suficiente para ele rejeitar a ‘credibilidade de suas testemunhas’.”

Influências do Evolucionismo

É de pressupor que as investigações da “alta Crítica” foram influenciadas pela teoria evolucionista. Isto explica em parte essa aversão a todos os que crêem literalmente nos relatos Bíblicos taxando-os pejorativamente de “fundamentalistas” que “crêem na Bíblia ao pé da letra”. É interessante o que Josh McDoweel registrou sobre este assunto citando Herbert Hahn: “…O conceito genético da história do Antigo Testamento ajustava-se ao princípio evolucionário de interpretação que prevalecia na ciência e na filosofia contemporâneas”. No campo das ciências naturais, a influência exercida por Darwin tinha feito da teoria da evolução a hipótese predominante que afetava todas as pesquisas.”

Como conseqüência deste ótica muitos estudiosos relegam a historia da religião dos hebreus como apenas uma longa jornada religiosa evolucionária até se formar o que é hoje. Tais indivíduos advogam que as religiões evoluíram do animismo para o politeísmo, e deste para o henoteísmo e, finalmente, chegando ao monoteísmo. O problema disto tudo, e isto é inevitável, é que elas convergem sempre para o anti-sobrenaturalismo.
Diz Norman Geisler que “A idéia de que o monoteísmo evoluiu recentemente ganhou popularidade após a teoria da evolução biológica de Charles Darwin, em sua obra A origem das espécies, de 1859. Em outra de suas obras, Darwin escreveu: “Não há nenhuma evidência de que o homem tenha originalmente adotado a crença na existência de um Deus onipotente”. Pelo contrário, Darwin acreditava que “as faculdades mentais humanas […] conduziram o homem à crença em entidades espirituais e, desta, para o fetichismo, o politeísmo e, por fim, o monoteísmo…”.

Quais são as implicações reais de tais deduções ao estudo da Bíblia? O maior perigo está em que quando são postos sob suspeita a estrutura histórica dos livros bíblicos sua mensagem também corre perigo. Já não se pode considerar a Bíblia como a autêntica mensagem de um Deus vivo falando a humanidade, mas apenas as conjeturas religiosas de homens falíveis.

Outro perigo é que quando os críticos permitem que suas teorias sejam influenciadas pelo evolucionismo, eles não só correm o risco de estar alicerçando essas teorias em uma tese defeituosa e especulativa, como suas conclusões irão por fim, eliminar a necessidade de crer num Criador e em sua mensagem inspirada.

Isto posto podemos resumir as proposições da Alta Critica Destrutiva da seguinte maneira:

1. Milagres não existem;
2. A Bíblia não passa de um produto da mente humana;
3. Os livros Bíblicos foram escritos muito tempo depois de sua composição;
4. Os milagres nada mais são que mitos e lendas dos antigos hebreus;
5. Existem erros e contradições na Bíblia;

Apesar de existirem outros, são basicamente estes cinco itens acima que solapam diretamente as seguintes verdades bíblicas:

1. Inerrância;
2. Inspiração verbal e plenária da Bíblia;
3. Autenticidade;
4. Veracidade e;
5. Credibilidade.

Extraído de: CACP